Ser Charlie ou não ser Charlie?

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A primeira edição da revista francesa Charlie Hebdo, após os atentados que levaram a morte 5 cartunistas, saiu as bancas. Na capa o que se vê é a imagem do profeta Maomé segurando uma placa onde diz “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), assim como fizeram os manifestantes contrários ao ataque, e acima da charge se lê “Tout Est Pardonné” (tudo é perdoado).

A charge pode ser interpretada como um critica direta ao extremismo religioso, uma vez que se entenda que a religião Islâmica e seu fundador não apoiariam a atitude dos grupos radicais em atentarem contra a vida de outros seres humanos. Contudo, ao retratar a imagem do profeta a revista novamente vai em encontro direto ao conflito com todos os Islâmicos e não apenas os radicais.

Uma das principais motivações para o ataque foram as sucessivas publicações de charges onde a imagem do profeta era retratada. Segundo a religião Islâmica a imagem do profeta nunca deve ser retratada, não existe nenhum tipo de imagem nessa religião para que seus adeptos não se desviem de Deus e passem a adorar figuras e homens.  E reclamações e pedidos pacíficos para que eles parassem com este tipo de publicação não faltaram e não faltam.

A revista, no entanto, assume uma postura quase tão radical quanto os extremistas e religiosos que ela recrimina. A diferença básica consiste no tipo de radicalismo. O radicalismo da revista está no seu discurso que é forte, duro e busca chocar os leitores para levá-los não apenas a uma crítica, mas a rejeição de algo que eles julgam ser idiota, qualquer forma de religião. O radicalismo dos islâmicos, por sua vez, fica no campo da agressão e não apenas do discurso. O confronto dos grupos radicais é físico, é objetivo e é mortal, como já constatamos.

Diante desse radicalismo que vêm, ainda que de formas diferentes (mas sempre desrespeitosas), ser ou não ser Charlie? Será que podemos aderir um lado? Talvez estejam todos errados, muito errados.

Fonte da imagem: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/01/1574804-edicao-do-charlie-hebdo-se-esgota-rapidamente-em-bancas-de-paris.shtml